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A Poesia Ainda Existe?

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11/01/2016

Podemos, simplificando as coisas, dizer que existem dois tipos de poemas. O rimado e o livre. A poesia rimada exige técnica de métrica e conhecimento de vocabulário. A poesia sem rima exige alma de poeta, e é muito mais difícil de ser feita.

Esse recado é aos copiadores de Manuel Bandeira. Ele soube fazer ambos tipos de poemas, e os versos livres que ele nos presenteou são pequenas obras primas, joias preciosas que são falsificadas com plásticos ordinários por muitas pessoas que se dizem poetas.

Se alguém se achar um poeta, repense. É poeta mesmo?

Não estou dizendo para que se deixe de escrever o que se passa pela cabeça e, principalmente, pelo coração. Alguns textos são belos, bem colocados, bem feitos, mas são textos não poéticos. Boas inspirações que valem a pena ler, mas, que para se chegar à poesia, tem de enfrentar ainda um caminho longo e difícil!

Da mesma forma, escrever rimas dentro de métricas também está longe de ser poesia. Está mais longe ainda, aliás! Nem todas as rimas atingem a alma humana. Eu me incluo na categoria dos escribas rimados, mas nunca a de poeta! Como posso competir com um “Morreu na contramão, atrapalhando o tráfego...” de Chico Buarque de Hollanda?

Mas existem ainda bons poetas, e são muitos. Os poetas estão aí. A poesia, não! A poesia está moribunda, quase morta!

Vamos colocar as coisas da maneira certa: a poesia exige um poeta para nascer. Um nascimento que vêm de uma intensa e íntima relação entre ele ou ela e suas inspirações. Mas o poema necessita viver e se alimentar, e, para isso, precisa de quem o leia e o aprecie! Isso está ficando cada vez mais raro!

A poesia, então, está se definhando, doente, e, hoje, está em coma, desenganada. A extrema-unção já foi requisitada.

Tudo começou com as belas frases que vinham em arquivos de Power Point, o programa de apresentação da Microsoft, parecendo lindas caixas que prometem estar recheadas de joias e bombons, mas que, na verdade, eram estéreis, vazias... Uma decepção. Minto! Vinham cheias de tanta pieguice que fazia até mal. O bom poeta não é piegas, nunca!

Eram acompanhadas por desenhos de criaturas etéreas, com planetas se pondo no mar escuro e moças de vestidos diáfanos e orelhas de gato sobrevoando as estrelas. Belo visual que fazia lembrar uma descrição do genial Milson Henriques: bonito por fora e vazio por dentro!

A coisa piorou. Vieram mensagens religiosas. Frases bíblicas com ameaças de infelicidade para quem não as divulgasse para pelo menos dez pessoas, e, evitando as figuras do tipo das satânicas “new age”, colocavam lindas figuras do Frajola e do Piu-piu, personagens de desenho animado da Warner, com as frases tipo “Jesus nos ama”, na esperança de que os recebedores leriam mais a Bíblia, depois disso.

Vejam bem: a Bíblia é um dos livros obrigatórios para se ler. Mesmo para ateus! É o melhor livro de auto-ajuda que já li!

Isso fez a população preferir ver um monitor a um livro. E poesia está nas músicas e nos livros!

E a música caiu! Nenhuma mensagem inteligente tem frequentado nossas melodias já faz algum tempo, nesse país entre o Paraguai e a África!

O golpe mortal veio com as redes sociais. Não conheço nada mais anti-social que uma rede social.

Há algum tempo, um cartunista francês — se não me falha a memória — contou numa história em quadrinhos de que havia uma festa em que todos trocavam ideias, conversavam e namoravam, até chegar alguém com um violão. Começou a tocar e, aí, acabou o flerte, a conversa e a sociabilização. Todos se concentraram num instrumento musical que fez simplesmente acabar com a festança.

Hoje, a coisa ficou pior. Numa festa, os jovens nem estão com um violão. Estão todos concentrados em seus celulares, trocando falas, mas não ideias, com alguém invariavelmente de fora — podendo também ser alguém ao lado! Tirando fotos do que come, do que bebe e revelando sua intimidade superficial a um grupo capaz de espalhar essa informação ao infinito — e, se isso ocorrer, vitória! Falei com o mundo, com exceção daquele, ou, mais ainda, daquela ao meu lado!

Então, a poesia morreu. Não revelo minha alma. Revelo meu corpo. Não falo de sentimentos, mas de consumo! O meu poder não está mais na força da minha pena, mas no preço do meu celular. Não está mais no quanto que alcanço a alma humana com minha profundidade, mas o quanto de olhos enxerga a minha superfície!

Mas o poeta está aqui, esperando ser convocado para ressuscitar a poesia. E, superando as tecnologias, passando por cima da superficialidade das coisas, arranjando o tempo que é contado aos minutos nessa vida que passa com rapidez crescente, vencendo todos os preconceitos contra as coisas arcaicas, vai vencer!

E, se não vencer, morre lutando até à vitória. Afinal, essa pessoa é muito mais que um lutador, que um administrador, que um soldado.

É, verdadeiramente, um poeta!


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