"Embaixo — o mar em cima — o firmamento... E no mar e no céu — a imensidade! Oh! que doce harmonia traz-me a brisa!"
(Castro Alves)
Lá onde céu e mar parecem um só, ele resolveu se sentar. Não havia horizonte, pois, tudo indicava, não havia fronteiras entre nós e o paraíso. Dava até para beijar o céu. Dava até para brincar de Deus. Dava até para se lançar no azul.
O pé na areia, no entanto, mostrava que ele estava sobre a terra. Abraçado pela ela, sentiu uma energia passar pela sua espinha. Era um recarregar de baterias, era uma força que o preenchia, algo que, há muito, precisava. Era o saber que fazia parte de algo, de que ele era tão ínfimo, mas que podia se sentir tão grande. Um pouco daquela imensidão.
O corpo ao vento o fazia lembrar que estava vivo... e como isso era bom! O vento que batia no flanco; o sol que batia na pele; fechou os olhos; abriu os braços; e deixou as ondas do mar o acariciar. Sentia-se como o feto, no útero materno. Pois se não é do mar que a vida veio. Do mar, no ventre da mãe; da mãe, no ventre da Terra.
Não havia tristeza: casais enamorados, pensando um no outro; casais casados, pensando nos filhos; crianças como anjinhos, fazendo suas diabruras; idosos, voltando a ser crianças. Ninguém se importava, ninguém corria, ninguém ligava. Não havia relógios, nem compromissos. O tempo não existia.
Ele queria ficar ali, para sempre: os pés descalços, o corpo aberto, o olhar na imensidade. Sabia que era impossível, no entanto. Uma hora, a realidade o reencontraria. Mas sabia, também, que a felicidade precisava ser fugaz. Simples e fugaz. Não se importava. Outra hora, voltaria.
*Publicado também em anaximandroamorim.com.br
** Advogado, professor e escritor.