1. capa
  2. Negócios
  3. Economia
  4. Política
  5. Ambiental
  6. Cidades
  7. Opiniões
  8. Cultura
  9. Oportunidades
  10. vídeos

Quatro Amigas e Um Fotógrafo

enviar por email

03/05/2016 - por Nancy Araújo de Souza

O que me inspirou a escrever este texto foi uma fotografia que uma amiga me mostrou recentemente, quando fiz uma viagem ao interior. Eu a trouxe de empréstimo para fazer uma cópia Ao ter nas mãos aquela foto, a vida tomou um rumo inesperado, e o passado voltou tão rapidamente parecendo que eu estava no Túnel do Tempo de um amigo. Estou com a cópia e a olho e torno a olhar e nos vejo, as quatro amigas, naquele domingo e em outros domingos da cidadezinha onde vivíamos. As quaro inseparáveis, deidades próximas com pequenas diferenças e moradoras na mesma rua: uma ao lado da minha casa, outra em frente e a outra na casa que fica, ela ainda existe, na praça exatamente na esquina da nossa rua. As demais casas não existem mais e a rua está bem diferente.

Olho as quatro meninas e nos vejo felizes brincando na rua, frequentando as casas umas das outras indo juntas para o Ginásio Monteiro Lobato. Eu e Élziaéramos da mesma sala, ela a aluna mais adiantada e estudiosa da turma. No final do ano sempre era citada como exemplo, não lembro se recebia alguma premiação. Nunca me esqueço da letra linda que tinha, a minha era feia, quase horrorosa. Seus cadernos eram caprichadíssimos.

Na cidadezinha o que fazíamos aos domingos era irà missa, ao campo de futebol ver o Esporte ganhar sempre dos times das cidades próximas tanto de Minas quanto do Espírito Santo. Na verdade nem me lembro se o Esporte vencia sempre, pois nem me interessava pelo jogo, mas gritava com a torcida incentivando nossos rapazes. Depois íamos à praça, nós tínhamos sorte de morar ali mesmo no centro. 

Não me lembro de quando surgiu o Tringolingo, outro clube que passou a ser o ponto de encontro da juventude.  Ali passamos momentos inesquecíveis. Adolescentes, como nós, rapazes e moças e até algumas poucaspessoas de mais idade. Ficava na Praça e era apenas um salão retangular, com mesas e cadeiras nas laterais . No centro, um espaço grande para uma mesa de pingue-pongue, parece que no fundo havia um palco pequeno. As tardes de domingo a gente passava no Tringolingo jogando pingue-pongue, ouvindo o som da eletrola que tocava boleros, bossa nova , rock, músicas da época. Tempos bons aqueles. Muitos namoros começaram ali. Também ali, muitos jovens aprenderam a fumar e a beber. As tardes e as noites de domingo eram tão animadas que muitos jovens deixavam suas cidades e vinham se divertir na nossa.

Mas o que eu queria falar da fotografia estou deixando pra trás. As quatro amigas, quando não tinham nada melhor para fazer aos domingos, ou simplesmente pretendiam alterar a rotina domingueiraresolviam tirar fotos. Aí entrava na história oquinto elemento de grande  importância na cidade: o fotógrafo. Em todas as festas, bailes, casamentos, festas cívicas, entre outras coisas, lá estava ele, o artista da fotografia.  Combinávamos com ele durante a semana e no domingo íamos a sua casa depois do almoço e ele, com a maior paciência e boa vontade saía conosco a nos fotografar pela cidade:Na Praça, na cachoeira, nas ruas, qualquer lugar era bom para fazer uma pose e clicar. Na semana seguinte estavam reveladas as nossas fotos. Ele as separava em quatro envelopes recebia o pagamento e nós colocávamos nos álbuns aquelas lembranças do dia.

Penso no Mardrinho e lembro sua paciência quando passava a tarde andando atrás de quatro meninas para fotografar, esperando uma arranjar o cabelo da outra, uma pedindo para consertar a blusa, a alça do soutien que não podia aparecer, retocar o batom, acho que nem usávamos batom naquela idade Ele aproveitava esses momentos paraum cigarro .Que coisa chata devia ser, deixar a família no domingo, a Jandira com o Humberto Luis ainda bebê ,pa-ra fotografar as quatro meninas  Será que ele saía conosco em domingo de Fla-Flu, no rádio? Seguramente que não. Não sei...

Aquelas tardes de domingo me fazem viajar no tempo quando vejo a foto. A lembrança do Mardrinho é muito forte porque muito da minha vida de criança, mais de adolescente, como de toda a cidade ele registrou com sua arte. Olhando a foto das quatro meninas que a distância separou cedo, tenho muita saudade de todas, do fotógrafo e do tempo que passou. 

Nosso fotógrafo partiu para fora do combinado há alguns anos. Ainda o encontrei muitas vezes no interior quando passava férias por lá. Lembro do nosso último encontro. Parei o carro perto da sua casae o vi com a Jandira na loja, acho que era uma loja.Parei para cumprimentá-los e fiquei um tempo ali conversando e  vendo as fotos que ele me mostrava. A cidade estava muito quente, quase insuportávele eu reclamei do calor. Ele riu e me disse : Está reclamando à toa. Viveu anos aqui neste calor e nem ligava. Passava férias de verão no Rio e achava uma beleza. Agora está reclamando por quê? “Eu de imediato, respondi: “Naquela época eu não tinha a idade que tenho nem estava na menopausa. Mardrinho deu uma gargalhada daquelas boas e eu e Jandira o acompanhamos na risada. Foi a última vez que nos falamos. Deixou saudades. Vendo a foto, meu coração fica meio descompassado e apontando para cada menina identifico-as para a minha filha. Esta é Maizé, Esta é a Efigeninha, esta é a Élzia e a menorzinha, mais magrinha e feinha sou eu. O fotógrafo que não está na foto, mas está no coração, é o Mardrinho. Quanta saudade daquele tempo!

Eliezer Batista Ligou A Vale Ao Resto Do Mundo

Galgando vários postos ao longo de sua carreira, até ser nomeado presidente da mineradora coube a ele transformar..


Dignidade de Liberdade

Para advogados, decisão do STF sobre casamento dá maior autonomia aos idosos...


Os Doces E Amargos Desafios Da Existência

Em "Chocolate Meio Amargo", a psicóloga Senia Reñones aborda as complexidades das relações humanas e as delícias de aprender...