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Fernando Motta: O Capixaba Que Conquistou A “Glória Eterna” E Hoje Trabalha Com CR7

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29/12/2020

Fernando Motta no circulo acima da foto integrou a comissão técnica da seleção portuguesa, ultima campeã mundial de beach soccer. Em terras lusitanas mostrou seu enorme talento. Fotos Divulgação.

Por Peter Falcão - jornalista capixaba

Como legítimo gladiador, Fernando Brunoro Motta colocou sua espada em punho e se preparou para enfrentar batalhas no esporte desde que se conheceu por gente. Com suas escolinhas, na Praia de Camburi, em Vitória, Estado do Espírito Santo, no Brasil, contribuiu, de forma contundente, na revelação de talentos e na difusão do beach soccer. Estudioso, ético, determinado e gentil teve revezes neste ambiente, às vezes, injusto e hostil do esporte. 

Largou tudo, mas um mergulho nas águas profundas da Praia da Costa, ao invés de afoga-lo, o ressuscitou para o esporte. E com a espada afiada novamente, reabriu caminhos no seu próprio coração para que seus sonhos ganhassem, outra vez, vida, afinal, eles jamais envelhecem, já disse a canção. Em terras lusitanas, mostrou seu enorme talento, sem jamais esquivar-se, e hoje contempla seus amigos brasileiros e seus pares capixabas de orgulho sem fim. 

Integrou a comissão técnica da seleção portuguesa, ultima campeã mundial de beach soccer, e, promovido trabalha junto à seleção de Portugal de futebol de campo com Cristiano Ronaldo e companhia.  Fernando Brunoro Motta: o capixaba que conquistou, espetacularmente, a glória eterna. Ao reinventar-se, nos reinventou. Gladiador que é. Imortal que foi.  

Entrevista:
 
 *Como começou no esporte? 
 
- Meus pais sempre incentivaram os filhos a praticar esportes. E o incentivo não era apenas pagando as mensalidades, mas comparecendo aos treinos e jogos, conversando sobre os valores que o esporte proporcionava. Treinei judô, futsal e futebol, aprendi a surfar e a me aventurar em inúmeros esportes: squash, tênis, corrida, futevôlei e beach soccer. 
 
* O que o motivou a criar a Geração Sports ? 

- Sempre fui apaixonado pela praia e futebol. Quando ingressei no curso de Educação Física, na UFES, em 1998, o beach soccer estava em evidência, principalmente pelos eventos que eram transmitidos no Esporte Espetacular. Somado a isso, no verão de 1998, a empresa da família foi uma das patrocinadoras da Copa Latina de Beach Soccer. Recordo-me que fiquei fã de um jovem atleta português (nada mais nada menos do que Madjer).  
 
* Interessante !

- Na época com 19 anos fiquei encantando por ver tudo aquilo. Falei com o meu pai que era aquilo que queria para a minha vida profissional. Ele falou: “se é isso, vamos atrás para você conseguir”. Conversamos com o subsecretário de Esportes e Lazer de Vitória, Ronaldo Mariano. Ele gostou da proposta e falou que não tinha nenhuma objeção para que aquele tipo de projeto acontecesse, mas salientou que a União era a responsável pelo espaço. Em compensação disse que a Semesp tinha amplo interesse na massificação da modalidade. Com o “aval” da prefeitura, identifiquei um local e coloquei em prática tudo que havia estruturado. 
 
*Muita gente passou por ali na Geração!  

- Importante dizer que a Geracão não foi a precursora. Na época já existia a T.A. Oil, projeto social que tinha como professores responsáveis: Rubinho Rabelo e Hudson Ramos e uma escolinha, a Camburi Beach Soccer.  
 
* Tempo Bom! 

- Sim, a década 2000 foi muito positiva para a modalidade, sendo que na Praia de Camburi chegou a ter sete projetos, totalizando quase 700 alunos e atletas. Por alguns anos a Geração teve, em média, 300 alunos, entre crianças, adolescentes, jovens e adultos, masculino e feminino. O sucesso da modalidade foi um misto de fatores: eventos promovidos pelos municípios (em especial, a Prefeitura de Vitória), o sucesso da seleção capixaba no Campeonato Brasileiro e o engajamento dos responsáveis pelos projetos. 
 
*O time feminino era fantástico! 

- Apesar do título brasileiro do sub-15 e o vice campeonato brasileiro no sub-20, ambos no masculino, foi o feminino que teve maior projeção. O grupo foi se formando ao longo dos anos, mas a base, sete atletas, treinou junta há muitos anos. Os resultados não apareceram de uma disputa para outra.  
 
* Sério? 

- Lembro-me que no primeiro ano de participação na principal competição feminina do estado, o Campeonato Municipal de Vitória, perdemos todos os jogos de goleada. Mas o importante foi as meninas acreditarem no projeto (desenvolvimento da modalidade) e no potencial delas (sempre abordava isso).  
 
* Muito Bom! 

- Pouco tempo depois, vencemos praticamente todas as competições disputadas no Espírito Santo, em especial, o Campeonato Estadual promovido pela Federação de Beach Soccer. Mas fomos campeãs municipais, JOEVI, Metropolitano, entre outros. No âmbito nacional, o feminino conquistou o vice-campeonato no primeiro Campeonato Brasileiro de Beach Soccer em 2012.  

 
* Lembro Bem! 

- Com o resultado, fomos credenciados para participar de uma competição internacional, no Rio de Janeiro. E nela ficamos em terceiro lugar. Mas o mais importante da Geração foi criar um ambiente para o desenvolvimento das atletas, tanto que revelou: Bárbara Colodetti, Letícia Villar, Letícia Lopes, Natália Pedrini, Nicole Bastos, todas que depois conquistaram títulos nacionais e/ou mundiais, pela seleção brasileira, Flamengo ou Pavia (Itália). 

 
* Você se afastou por um tempo. 

- Após algumas decepções no esporte, em 2013 tomei a decisão de não trabalhar mais na área. Entretanto, após dois anos em São Paulo, visitei Vitória. Em um desses dias por terras capixabas fui à Praia da Costa e vi a turma jogando futevôlei, outros correndo, uma vibe muito boa. Muitas das minhas decisões importantes são no mar, sozinho. Entrei no mar da Praia da Costa, fiz minha conexão com Deus e senti muito forte que deveria voltar para o esporte.  
 
*Emocionante ! 

- Cheguei em casa e falei com a minha esposa que queria conversar com ela. Disse que havia repensado a minha vida profissional e que estava decidido a voltar para o esporte, mas que tinha duas certezas: queria me qualificar através de mestrado e que teria que ser fora do Brasil.  
 
* Foi aí que Portugal "entrou" em sua vida ? 

- Estudei alguns mercados e decidi por três lugares: Estados Unidos, Dubai e Portugal. Fiquei um mês nos Estados Unidos, mais um mês em Dubai e quando também iria ficar um mês em Portugal, decidi ir direto para este país. 
 
* O que o motivou tanto ? 

Apesar de dar prioridade ao Mestrado, queria ter a experiência profissional internacional. Por isso, ainda no Brasil enviei muitos currículos para os clubes portugueses. Entretanto, do Brasil, nenhum contato havia avançado ao ponto de fechar contrato. Chegando em Portugal comecei a visitar todos os clubes e reforçar o meu currículo. Logo na primeira semana consegui uma vaga de auxiliar técnico no Sacavenense, clube com muita força nas categorias de base e que disputa o Campeonato de Portugal, o equivalente à nossa Série C.  
 
* E depois ? 

- Após duas semanas no Sub-14 do Sacavense, recebo um convite do SL Benfica. Assim como no clube anterior, o cargo era de auxiliar técnico, pois quem não possui a certificação da UEFA não pode ser o treinador responsável pela equipe, nem mesmo nas categorias de formação, como o Sub-15.  
 
*Benfica é super conceituado. 

Verdade. Após uma temporada vestindo o uniforme do maior clube de Portugal recebo o convite para integrar a Federação Portuguesa de Futebol, responsável pelas seleções de Futebol, Futsal e Beach Soccer de Portugal. Agora não mais como auxiliar técnico, mas como Analista de Desempenho, uma função de muito prestígio e estratégia na Federação Portuguesa. 

 
*Que História ! 

- Na temporada 2019/20 fui o Analista Titular das seleções: Sub-15, Sub-16 e Sub-19 Femininas de Futebol e da seleção masculina principal de Beach Soccer. Nesta temporada recebi uma promoção e ficarei responsável pela Seleção A Masculina (CR7 e cia), além do beach soccer.  

 
*Como é seu trabalho ? 

- O nosso trabalho consiste basicamente em realizar uma filmagem técnica (diferente da filmagem fechada de TV) dos treinos e jogos, assistir jogos dos adversários e produzir relatórios coletivos e individuais. Depois produzir relatórios numa perspectiva de como a nossa seleção pode neutralizar os pontos fortes e quais são os pontos vulneráveis dos adversários que podemos explorar com as nossas características.  

 
*Muita Responsabilidade! 

 - Somos os responsáveis por elaborar os vídeos de apresentação aos atletas, no pré-jogo e pós-jogo. Temos que manter atualizada a planilha de volume de treinos e jogos de todos os atletas, para acompanhar a minutagem deles no contexto de seleção. Além de outras atribuições, como scouting, também participamos de projetos.  

 
* Nos exemplifique por gentileza. 

- Por exemplo, um treinador quer que façamos um rastreio de atletas pelo mundo com potencial de dupla cidadania (portuguesa). Participei de projetos de investigação científica em parceria com a Portugal Football School, a nossa CBF Academy. Fiz também inúmeras módulos para que os treinadores nacionais apresentassem nos congressos internacionais e também nos cursos de formação de treinadores da UEFA.  

 
*Belas Conquistas! 

- De verdade, a principal conquista foi ter aberto as portas da Federação Portuguesa para os brasileiros. É indiscutível o quanto eles acham os jogadores brasileiros talentosos. E ponto. Brasileiro na gestão esportiva, na área técnica....esquece. 

 
*Sério? 

 - Somos muito mal vistos. O meu coordenador abriu o jogo e na minha última entrevista disse que não gostava de brasileiros e para ele não seria nada fácil lidar com um funcionário brasileiro. Foi nesse ambiente hostil que entrei e permaneço, pois ainda existe resistência, principalmente por aqueles que são do departamento técnico, mas não fazem parte das minhas seleções.  

 
*Curioso! 

- Na última reunião que tive com o meu coordenador ele me agradeceu por todo o trabalho que entreguei à Federação Portuguesa e disse que eu consegui desconstruir a imagem negativa do brasileiro. Mas sei que essa conquista quem não vivenciou não tem como entender a dimensão.  

 
*Em termo de conquitas esportivas, o que pode nos citar ? 


- Então, em termos de conquistas esportivas: campeão do Copa do Mundo FIFA 2019 de Beach Soccer e a classificação para a Fase Final do Campeonato Europeu de Futebol Feminino Sub-19. Outra grande conquista, fui o único analista de desempenho da história da Federação Portuguesa de Futebol a desenvolver projetos de investigação científica em parceria com o PFS.  

 
*Impossível não comparar não é mesmo? 


- Não gosto de comparações, mas nesse tópico é necessário fazer: existem diferenças importantes entre o Brasil e Portugal. E, infelizmente, temos muito que evoluir. No Brasil a indicação é a principal forma de entrada no mercado do futebol. Em Portugal, os profissionais ligados ao Futebol são conhecedores da modalidade e falam com a propriedade do conhecimento prático, ligado ao científico, já no Brasil muitas pessoas têm convicção que são conhecedoras do futebol, simplesmente por estarem ligadas à modalidade há muito tempo.  

 
*Na verdade, observa-se isso em variados setores. 

- A valorização do currículo é fato em Portugal. Em síntese, as pessoas ligadas ao Futebol estão, na grande maioria dos casos, muito mais preparadas em Portugal. A desvalorização salarial é algo que também desestimula aqui no Brasil, apesar de não ser algo tão positivo também em Portugal (mas no Brasil é fora da curva). 

 
*E os planos para o futuro? 

- Eu e minha esposa queremos ter filhos no próximo ano e não vimos sentido tê-los longe dos familiares, então a nossa preferência é por ficar no Brasil, apesar de ter contrato com a Federação Portuguesa de Futebol. Recebi propostas aqui no Brasil para alguns clubes, mas todos na área de análise.  

 
*E no Espírito Santo? 

- No Espírito Santo, inacreditavelmente, é o local que menos tive procura, apenas dois clubes me procuraram, mas somente um segue negociação. Em paralelo, tirei da gaveta um projeto que tinha desde 2007 e iniciei treinos específicos de Futebol, o FutMais Treinos que tem sido um sucesso. Espero que continue crescendo para poder colocar em prática, tudo que aprendi nesses últimos anos em Portugal, quer seja no ambiente acadêmico como profissional, a favor dos capixabas.


 

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