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Capixaba Perde o Miss Brasil 1930 para a Política

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09/06/2021 - por Paulo César Dutra

Maria Ferrari era a mais votada, embora triunfante e já com a aureola de vencedora foi deslocada para o 3º lugar do concurso 

A Miss Colatina, depois Miss Espírito Santo, uma jovem colatinense de 16 anos, descendente de italianos, Maria Rosa Ferrari, a “Mariquinha”, em 14 de julho de 1930, foi garfada no concurso de Miss Brasil, que teve o seu resultado modificado “por trás dos panos” dos organizadores, que não respeitaram a decisão dos jurados. E foi o que se deu. Maria Ferrari não pode, a despeito da opinião geral em seu favor, ficar no posto que lhe pertencia. E desceu para o terceiro lugar. Desceu, aliás, por ser um artificialismo grosseiro, mas moralmente é ela, a legitima miss Brasil 1930. A vencedora arranjada para atender uma decisão do revolucionário Getúlio Dornelas Vargas, foi a representante do Rio Grande do Sul, Yolanda Pereira e a segunda colocada, a representante de São Paulo, Maryna França, atendendo aos aliados de Vargas.

A verdadeira Miss Brasil 1930, Maria Ferrari nasceu em Colatina, e era filha de Fidélis Ferrari e Raquel D’alcomo, filhos de italianos. Era alta, de olhos azuis e já moça feita, quando deu seu primeiro passo para a fama. A beleza e simpatia da colatinense, nas passarelas, contagiou não só o Espírito Santo, mas também o Brasil e o Mundo. Para os jurados, “Mariquinha”, foi injustamente prejudicada, porque Getúlio Vargas, que viria ser o ditador do Brasil naquele ano, queria a sua conterrânea como vencedora. Além da “Mariquinha”, Colatina teve outras misses Espírito Santo: Maria Fernandes, Carminha Zamprogno, Justina Primo e Dalva Riva. 

A primeira representante do Espírito Santo de destaque no concurso de Miss Brasil foi Maria Ferrari, em 1930, que venceu, mas não levou, como escreveram e falaram os jornalistas da maioria dos jornais e das rádios que atuavam no Distrito Federal do Rio de Janeiro. 

Na época, entre 1929 e 1930, Maria Ferrari era procurada por organizadores de concursos de beleza, em Colatina. Com o pai dela sempre viajando, o medo de “ficar falada”, como dizia o povo naquela ocasião, Maria Ferrari encontrava um grande obstáculo para sair de casa com as amigas em Colatina, para festas, passeios, cinema e clubes. 

A mãe dela quando era questionada “porque não deixava a filha ser candidata nos concursos de beleza da sua cidade. Ela explicava que a filha não tinha roupas para tais eventos e que também o pai nunca estava em casa para a autorizar. Quando teve o sinal verde para participar dos concursos de beleza da cidade, foi necessário ela pegar quase tudo emprestados com a irmã mais velha e com uma prima. 

Como vencedora do concurso miss Colatina ela conseguiu comprar roupas com o um conto de réis dado pela Prefeitura, para ela disputar em Vitória, o Miss Espírito Santo de 1930. Com a vitória dela, Colatina fechou o comércio para o povo ir para as ruas da cidade para saudá-la, com aplausos e muitas flores. Ela ainda recebeu um prêmio de vinte contos de réis, em dinheiro, pelo título.

Sendo assim, Maria Ferrari foi oficializada como representante do Espírito Santo no Miss Brasil 1930, na Capital Federal do Brasil, Rio de Janeiro. A viagem para o Rio de Janeiro foi de carro até Vitória e depois de hidravião até o Rio de Janeiro. Depois de uma viagem, com várias paradas, ter vômitos constantes por causa do balanço do hidravião e, além disso, enfrentar uma pane que exigiu uma aterrisagem forçada, Maria Rosa Ferrari soube superar tudo, principalmente ao se deparar no Rio com os preparativos que a cidade havia feito para as candidatas ao Miss Brasil. Ela participou de bailes e festas onde recebeu apoio de gritos dos participantes de “é a Capixaba! A Capixaba!”, o que a deixou confiante na disputa.

As conversas dos bastidores do Concurso eram de que a briga pelo título ia ficar entre a misses do Espírito Santo e a do Rio Grande do Sul, Yolanda Pereira. No dia do último desfile, faltou luz na cidade e, no corre-corre para se arrumar, Maria Ferrari machucou o rosto, cotovelos e joelho ao cair de encontro a uma máquina de costura. Com isso, não queria mais desfilar, mas todos da organização do evento a convenceram de continuar.

O que se pressentia era de que tudo estava contra a capixaba, Maria Ferrari, que já era considerada a Miss  Brasil 1930, antes de desfilar e durante o desfile no concurso. O jornalista Oswaldo Peggi, do jornal A Manhã, do Rio de Janeiro, em 15 de julho de 1930, publicou uma nota na sua coluna diária com o título Política contra Belleza para divulgar o que havia testemunhado durante o concurso conforme está copiado abaixo, com a mesma forma gráfica da ocasião.

No dia seguinte ao concurso de miss Brasil 1930, o colunista do jornal carioca “A Manhã”, Oswaldo Peggi publicou um artigo no matutino declarando que a verdadeira Miss Brasil 1930, era a colatinense Maria Ferrari. O artigo está transcrito na íntegra, abaixo, entre aspas, com a grafia da época:

“Política contra Belleza
Decididamente não há nada sério neste paíz.
Para que diabo se hão de lembrar dos taes concursos de beleza, si, nem ao menos, nesse inofensivo certâmen nacional, procedem com a lisura, com a circumspeção que o caso exige.
Não está aqui, em fôco, um caso em que, por ventura uma razão de Estado justifique um golpe contra algum direito incontestemente adquirido.
Não.
Tão somente se trata, na espécie, de um passa-tempo sem consequencias, salvo a recordação dos dias fugazes, mas festivos, em que se homenageou, nas pessoas de vinte e uma senhoritas, a beleza feminina em vinte e um departamentos do território brasileiro.
Pois nem assim, nem se tratando de uma cousa tão inocente, deixa de penetrar escrilegasmente a molecagem masculina.
É o caso do último concurso de beleza ocorrido na Capital Federal.
A mais votada, Miss Espírito Santo, senhorita Maria Ferrari, embora triunphante e já com a aureola de Miss Brasil, tinha de ser deslocada.
Era preciso que, mais uma vez, o famoso pletelão, o presitigio indevido, viesse à scena.
E foi o que se deu. Maria Ferrari não poude, a despeito da opinião geral em seu favor, ficar no posto que lhe pertencia.
E desceu para o terceiro logar.
Desceu, aliás, por ser um artificialismo grosseiro, mas moralmente é ella, a esta hora, a legitima miss Brasil.
E viva Collatina...
Oswaldo Peggi”

Um fato engraçado aconteceu, segundo Maria Ferrari, após um dos bailes no Rio, quando deparou com um gaúcho que, querendo conquistá-la, aproximou-se e disse: “mulher é uma coisa engraçada. Outro dia te vi com este vestido, só que o laço era na frente”. Ela notou com desesperada certeza que tinha vestido a roupa ao contrário.

Se ser Miss Brasil era difícil, para quem era do Espírito Santo, mais ainda era em tempo de guerra política no país. E já havia quem afirmasse em jornais da época que “haja o que houver, vai ganhar a miss Rio Grande do Sul para dar força a Getúlio Vargas (que era candidato a presidente da República)”. Além disso, o Espírito Santo não tinha representação no júri.

Naquele tempo era tudo às claras. As misses desfilaram para o júri com o rosto lavado sem maquiagem. Detidamente examinadas, empataram miss Espirito Santo e Miss Rio Grande do Sul. Na segunda votação, Maria Ferrari já ficou em segundo, juntamente com a Miss São Paulo. E depois, com as decisões de bastidores ocultos, ela acabou em terceiro lugar no Miss Brasil 1930.

Numa entrevista ao jornal A Gazeta, em 1973, com 59 anos de idade, Maria Rosa Ferrari contou toda a trajetória de seu brilhante título, o 3º lugar no Concurso de Miss Brasil, em 1930, no Rio de Janeiro. Mas ela não declarou a sua insatisfação com os organizadores do evento, que atenderam uma decisão de Getúlio Vargas.

Maria Ferrari, casou-se com o engenheiro carioca Dido Fontes de Faria Britto, logo após o concurso, e com ele teve três filhos, que lhe deram sete netos. Ela morava em Vitória e frequentemente ia a Colatina, sua terra natal. Ficou viúva e, em 1986, faleceu aos 72 anos de idade, vítima de câncer. O marido dela foi o primeiro diretor do Departamento de Edificações e de Rodovias do Espírito Santo - DER-ES. Dido Fontes foi que descobriu e divulgou as belezas naturais de Pedra Azul, em Domingos Martins, no Espírito Santo, Brasil.

 

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