Apesar de não ter sido encontrada ordem direta do ex-presidente, denúncia afirma que ele tinha ciência dos atos e conversava sobre o melhor momento de eles ocorrerem
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Duda Teixeira
Reportagem do site Crusoé (18.02.2025)
Uma das principais dúvidas sobre a denúncia da Procuradoria-Geral da República divulgada nesta terça-feira, dia 18,02.2025, era como o órgão de acusação ligaria o ex-presidente Jair Bolsonaro à trama golpista.
Afinal, não foram encontradas mensagens enviadas por Jair Bolsonaro dando ordens para seus subordinados realizarem um golpe de Estado ou coisa parecida.
Nesse sentido, a defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro divulgou uma nota na noite de terça, 18, afirmando que a Procuradoria-Geral da República não encontrou “nenhum elemento que conectasse minimamente o presidente à narrativa construída na denúncia”.
“A despeito dos quase dois anos de investigações — período em que foi alvo de exaustivas diligências investigatórias, amplamente suportadas por medidas cautelares de cunho invasivo, contemplando, inclusive, a custódia preventiva de apoiadores próximos —, nenhum elemento que conectasse minimamente o presidente à narrativa construída na denúncia, foi encontrado. Não há qualquer mensagem do presidente da República que embase a acusação, apesar de uma verdadeira devassa que foi feita em seus telefones pessoais”, diz a nota, divulgada pelo advogado Paulo Cunha Bueno na rede X.
“A inepta denúncia chega ao cúmulo de lhe atribuir participação em planos contraditórios entre si e baseada numa única delação premiada, diversas vezes alteradas, por um delator que questiona a sua própria voluntariedade. Não por acaso ele mudou sua versão por inúmeras vezes para construir uma narrativa fantasiosa”, diz a nota.
“A gente já perdeu tantas oportunidades”
De acordo com a denúncia da PGR, o documento Punhal Verde Amarelo, que tinha um plano para neutralizar autoridades públicas (o presidente Lula, o vice Geraldo Alckmin e o ministro do STF Alexandre de Moraes) foi impresso no Palácio do Planalto pelo general da reserva Mário Fernandes no dia 9 de novembro de 2022.
Em seguida, o documento foi levado ao Palácio da Alvorada, a residência oficial, para ser mostrado ao presidente e a Mauro Cid.
As presenças de Mário Fernandes e de Mauro Cid no Palácio do Alvorada nesse dia foram comprovadas por registros de entrada.
“A ciência do plano pelo presidente da República e a sua anuência a ele são evidenciadas por diálogos posteriores, comprobatórios de que Jair Bolsonaro acompanhou a evolução do esquema e a possível data de sua execução integral. Assim, em áudio por WhatsApp de 8.12.2022, Mário Fernandes relata a Mauro Cid que havia estado pessoalmente com Jair Bolsonaro e debatido o momento ideal de serem ultimadas as ações tramadas”, diz a PGR na página 127.
O áudio traz a seguinte mensagem, enviada por Mário Fernandes: “Durante a conversa que eu tive com o presidente, ele citou que o dia 12, pela diplomação do vagabundo (Lula), não seria uma restrição, que isso pode, que qualquer ação nossa pode acontecer até 31 de dezembro e tudo. Mas (…) aí na hora eu disse, pô presidente, mas o quanto antes, a gente já perdeu tantas oportunidades”.
A PGR também argumenta que, quando o documento Punhal Verde Amarelo foi impresso e levado a Bolsonaro, as ações de monitoramento já estavam em curso, “o que igualmente reforça a ciência prévia da alta cúpula da organização criminosa”.
A alta cúpula da organização criminosa, segundo a PGR, era composta por Jair Bolsonaro e o ministro da Defesa Walter Braga Netto.
“01 sabe disso? ”
A PGR também afirma na página 169 que Jair Bolsonaro teve conhecimento da elaboração, em novembro de 2022…